Bolsa e merenda reforçada por cincos estados brasileiros
Em matéria do UOL, cinco estados do Brasil afirmaram oferecer bolsa e merenda reforçada com o propósito de reduzir ainda mais a evasão escolar. O setor de educação foi um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19, especialmente o ensino público.
Bolsa e merenda reforçada
No caso da aluna Aline Jesus dos Santos, ela só conseguiu concluir o ensino médio, neste mês, após receber R$ 150 por mês oferecidos pelo governo estadual da Bahia. A iniciativa é chamada de Bolsa Presença.
“Muitas vezes pensei em desistir, mas tenho um foco e objetivo que é fazer meu curso de enfermagem. Fiz uns bicos e, com o benefício, consegui continuar na escola.”
No estado, além da bolsa, desde março os estudantes da rede estadual passaram a contar com o projeto Mais Estudo. Neste caso, alunos monitores recebem R$ 100 para ensinarem outros alunos. Contudo, ainda há uma merenda extra.
Para Aline, que estudava à noite, passou a tomar café da tarde na escola e também jantar. Para isso, ela provou que estava matriculada e que possuía frequência mínima no local de ensino.
Evasão escolar na pandemia
A pandemia gerou um desafio em relação à evasão escolar. Segundo um levantamento do movimento Todos Pela Educação, quase 244 mil estudante de 6 a 14 anos estavam fora das escolas no segundo trimestre deste ano. Isso equivale a um aumento de 171% em comparação ao mesmo período de 2019.
Além disso, tal movimento pode gerar ao Brasil um retrocesso de quase 20 anos nos indicadores da área, afirma a presidente do Conselho de Administração do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), Anna Helena Altenfelder. A entidade atua desde 1987 contra a redução de desigualdades no acesso à educação.
Estudo feito pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), em parceria com o Cenpec, mostrou que o número de alunos sem acesso à escola no Brasil aumentou de 1,1 milhão em 2019 para 5,1 milhões no ano passado (primeiro ano da pandemia).
Iniciativas implantadas pelos estados
Alagoas, Pernambuco e São Paulo também adotaram programas de apoio financeiro. Assim como Santa Catarina que possui um projeto de lei em tramitação da Assembleia Legislativa que visa ofertar R$ 6.250 por ano, divididos em 11 parcelas de R$ 568 por aluno.
No caso de Alagoas, diferentes programas foram lançados para atrair os estudantes. Entre os quais: uma bolsa de R$ 100 mensais a alunos do ensino médio e da EJA (Educação de Jovens e Adultos) que tiverem no mínimo 80% ou mais de presença nas aulas. E quem concluir o ensino médio também vai receber uma bolsa de R$ 2 mil.
Vale destacar aqui que uma medida sozinha não basta. Pois o que surtirá efeito é uma combinação de ações, auxílio financeiro, campanhas de comunicação e mobilização das escolas para engajar esse aluno. Anna Helena Altenfelder, presidente do Cenpec diz ainda que é preciso ter estratégias articuladas para obter um resultado efetivo.
Bolsas a monitores
Pernambuco aposta em bolas a alunos monitores, no valor de R$ 800 (já formados) e de R$ 200 para quem está no 9º ano ou na última série do ensino médio. Anna revela ainda que essas iniciativas envolvem diferentes áreas, como renda, comunicação e saúde, que são fundamentais para atrair os alunos que mais precisam.
Mão na massa
A presidente do Cenpec afirma também que o MEC (Ministério da Educação) precisa assumir seu papel de coordenação da política educacional.
“Não vimos nenhuma iniciativa relevante. Pelo contrário, vivenciamos uma confusão no Enem, dificuldade para conseguir isenção. Faltou uma campanha de motivação para fazer o exame, por exemplo.”
Já a pasta rebateu a afirmação, dizendo que “vem ampliando o esforço de coordenação e apoio aos estados e Distrito Federal”. E citou o Programa Brasil na Escola, que tem o objetivo de colaborar com a permanência dos alunos dos anos finais, a produção de avaliações diagnósticas para compreender o nível de aprendizagem dos alunos e a política de conectividade, que oferece internet nas escolas.
Além disso, o MEC disse que a PIEC (Política de Inovação Educação Conectada) enviou até 12 de novembro ao FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação) cerca de R$ 309 milhões para serem repassados a 101.878 escolas.
Apontou ainda que o novo ensino médio torna a escola “mais interessante e atraente”. Entre as alterações, aprovadas em 2017, estão o número de horas anuais obrigatórias —de quatro para cinco horas diárias— e a chance do aluno escolher as matérias que vai cursar.
Auxílio para pais
Por outro lado, as capitais São Paulo e Rio de Janeiro vêm estruturando programas com foco na renda dos pais de alunos para evitar a evasão escolar. Em contrapartida, as famílias devem colaborar com o cumprimento dos protocolos sanitários nas escolas ou auxiliar na busca ativa de alunos que correm o risco de abandonar os estudos.
Em São Paulo, o programa começou em agosto, com bolsa de R$ 500. Sobre isso, Carlos Stapff, pai de William, vê a medida como uma fonte de renda após três anos desempregado.
“Para quem não tem nada, qualquer ajuda é bem-vinda.”
Seu filho também recebe uma bolsa de R$ 100. Para o aluno, que descobriu que em 2022 terá aula integral, ficou desanimado. Mas ao entender os benefícios e ter direito à bolsa, ficou mais animado.
No Rio, as famílias foram selecionadas neste mês e devem começar a atuar no próximo ano. O valor da bolsa auxílio será de R$ 1.000.
Monitoramento à distância
No Distrito Federal, e em outros sete estados, a busca ativa é a principal iniciativa.
Nesses casos, as escolas costumam entrar em contato por telefone, redes sociais e até mesmo indo até as casas dos alunos que abandonaram os estudos.
No Piauí, há um painel de monitoramento com dados sobre o acesso dos alunos às aulas remotas.
Por fim, a maioria desses estados faz parte do programa “Busca Ativa Escolar”, desenvolvido pelo Unicef, que auxilia gestões locais no combate à evasão escolar.
*Foto: Unsplash