Universidades corporativas pretendem criar líderes mais humanos
Não é só o setor de educação de jovens de ensino fundamental, ensino médio e superior que desejam criar pessoas melhores para a vida. As “universidades corporativas” desejam o mesmo. Neste caso, o foco é criar líderes mais humanos, que sejam capazes de serem pessoas melhores para o mundo atual.
Universidades corporativas na pandemia
É o caso da empresa Ambev, que conta com a plataforma Ambev ON. Durante a pandemia, a companhia sentiu a necessidade de continuar a desenvolver melhores talentos, mesmo sendo “em casa” agora.
Atualmente, a empresa organiza programas para determinados cargos. Alguns deles são para liderança e outros para áreas operacionais. Ambos possuem curadoria de conteúdos, que são divididos em trilhas. Em suma, cada funcionário escolhe um caminho de aprendizado, e consome o que quiser no dia e horário que bem entender.
De acordo com a funcionária, que já atua na empresa há nove anos, Marina Zibetti:
“A trilha que mais gostei foi a de relacionamento com clientes. Me chamou a atenção a escolha dos conteúdos. Então não era só sobre a viagem, o caminho motivava.”
Zibetti e outros quatro colegas de trabalho irão conhecer o Vale do Silício em 2022. Tudo será pago pela Ambev. Ela e os demais ganharam ainda vouchers de entrega de cerveja nos últimos nove meses.
Desenvolvimento na empresa
Zibetti conta que escutou vários podcasts, assistiu a várias palestras virtuais, leu livros e artigos e participou de uma competição em grupo para decifrar problemas reais da Ambev. Além disso, cada atividade rendia uma pontuação específica. Ela somou 9 mil pontos, e liderou um ranking entre os 336 gerentes seniores.
Zibetti que é formada em administração conheceu e frequentou a Universidade Corporativa Ambev, com aulas e palestras presenciais designadas pela chefia, com horários definidos. Mas quem não comparecia, perdia pontos e, consequentemente, também perdia a cobiçada viagem oferecida aos colaboradores mais dedicados.
Mudaram a visão
Segundo a People Design BU Brazil na AmBev, Illana Kern, a companhia mudou sua visão e explica:
“Viramos uma plataforma de aprendizado e mudamos a visão: antes preparávamos melhores líderes, hoje queremos formar pessoas melhores para o mundo.”
Por meio da plataforma é possível aprender tanto sobre liderança, quanto sobre questões raciais e diversidade. E sem qualquer cobrança, diz Kern.
“É para que entendam que ninguém vai cobrar treinamento. Quem não quis participar do On My Journey não participou e não ganhou viagem. E tudo bem.”
Maratona hacker
Contudo, Zibetti lembra que após um importante mergulho teórico, ela e outros participantes encararam um hackathon, espécie de maratona hacker. Sendo assim, todos os participantes receberam em casa kits com camiseta, livros e produtos da Ambev. E às 9h, cada um escolheu e montou seu avatar e entrou num ambiente de escritório virtual, com sofás, mesas e tapetes. Em seguida, foram divididos em grupos de até quatro pessoas. E se depararam com o desafio de resolver o primeiro de oito problemas reais relatados pelos heads e vice-presidentes da Ambev.
Zibetti conta que um deles foi resolver a insatisfação do cliente com a indisponibilidade de produtos no aplicativo. Havia duas opções ali: avisá-lo de que o produto estaria disponível dali a dois dias e agendar o pedido para aquela data; ou criar um botão de “avise-me quando chegar”.
Ela revela que parecia básico, mas “a gente não tinha nada disso no aplicativo”. Portanto, foi o desempenho no hackathon e a dedicação aos conteúdos teóricos que garantiram a ela e seus colegas as passagens aos EUA.
Universidade do Hambúrguer
Dentre outras universidades corporativas, a instituição do grupo McDonald’s faz o funcionário ingressar em seus cursos com a finalidade de saber melhor que a empresa faz. A Hamburger University é um dos três pilares de desenvolvimento profissional oferecido pela empresa. Segundo Josane Julião, reitora da Hamburger University:
“Usando uma analogia, o restaurante tem um papel quase como o do ensino fundamental, aprendizado mais técnico operacional.”
Hoje, há centros de formação de acadêmica, presentes em nove cidades brasileiras e voltadas a gerentes. Isso tudo equivale “ao ensino médio, e a universidade ao ensino superior”.
Além disso, desde 1997, o Brasil entrou numa lista pequena de países onde a rede de restaurantes montou uma estrutura física de aprendizado. Apenas mais oito países receberam a Universidade do Hambúrguer. O local dá treinamento de liderança para gerentes e CEOs da América Latina.
Esta é a lógica de outras universidades corporativas: funcionários contam com algumas trilhas de aprendizado para concluir. Mas, ao contrário da Ambev, os líderes da Arcos Dorados, a maior rede de franquias da lanchonete, possuem cursos pré-estabelecidos a cumprir e outros opcionais.
Julião acrescenta:
“Existe um currículo base obrigatório para algumas posições em cada loja da franquia. Então, alguns cursos são requeridos para quem se candidata a elas. Há, no entanto, outros programas de aprimoramento opcionais, com workshops e webinars, disponíveis para todos, não apenas para a liderança.”
Além disso, os cursos são rápidos, com carga horária de até 20h no modo remoto ou 48h presenciais (antes da pandemia).
50 mil funcionários no Brasil
Hoje, 50 mil funcionários da organização na América Latina estão no Brasil. Desses, apenas 2 mil ocupam cargos de gerência ou superiores. Exatamente por isso que o McDonald’s não oferece somente os cursos da Hamburger University.
“Desde 2015, evoluímos na América Latina para não olharmos apenas para a parte técnica e funcional, mas também para o desenvolvimento de competências para a vida. Temos um perfil de primeiro empregador formal, então recebemos jovens ainda muito crus.”
Sendo assim, a empresa mantém parcerias com faculdades para que seus funcionários recebam bolsas de estudo e concluam a graduação. Com isso, podem cobiçar cargos mais altos.
Pandemia
Com a pandemia, empresa teve de repensar seus cursos a distância, fato que não davam importância antes. No ano passado, as restrições fez com que a rede de franquias criasse uma curadoria de conteúdo e colocasse os treinamentos à disposição a todos os funcionários numa plataforma digital.
“Transformamos as palestras em webinar. Convidamos especialistas de fora da empresa para uma conversa e trazemos também alguém da Arcos Dorados, mostrando como a teoria se aplica ao nosso negócio.”
A estratégia deu certo e hoje, esses eventos ocorrem a cada 15 dias. Resultado: mais de 7 mil funcionários já receberam certificados; somados aos outros cursos, o McDonald’s emitiu 84 mil certificados em toda a América Latina.
Cursos estão abertos para a população em geral
Com o sucesso da iniciativa, agora os cursos estão abertos para a população em geral. Portanto, qualquer pessoa pode se inscrever e fazer os cursos livres na plataforma “Receita do Futuro”.
São cinco possibilidades: atendimento ao cliente, empreendedorismo, finanças pessoais, saúde e bem-estar, e inteligência emocional.
De acordo com pesquisa da empresa, feita em parceria com consultoria Trendisty, 67% dos jovens entendem que precisam buscar cursos para compensar a falta de experiência, conclui Julião.
“As pessoas começaram a perceber valor no conhecimento, na aprendizagem ao longo da vida. Se não nos reinventarmos, não poderemos superar esta e outras crises.”
*Foto: Divulgação